O Brasil, com sua diversidade cultural e paisagens diversas, é um país que enfrenta questões de saúde que refletem diretamente suas nuances sociais. No meio desse mosaico, a diabetes emerge como uma preocupação crescente, afetando não apenas indivíduos, mas também comunidades inteiras. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e
publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem (RLAE) lança luz sobre a relação entre as condições sociais, indicadores de saúde e a mortalidade relacionada à diabetes no Brasil. Orientado pela professora Thereza Maria Magalhães Moreira, que possui vasta experiência no campo, e conduzido por Thiago Santos Garces, o estudo busca compreender os fatores que afetam as taxas de mortalidade pela doença no país.
A pesquisa explora a natureza contínua dos desafios enfrentados por pacientes com a doença. Essas dificuldades variam de acordo com os tipos de diabetes, como o tipo 1 e o tipo 2. Pacientes com diabetes tipo 1 enfrentam crises durante o diagnóstico e a adolescência, enquanto aqueles com diabetes tipo 2 muitas vezes lidam com as consequências de escolhas de estilo de vida inadequadas ao longo dos anos. Uma das descobertas mais notáveis do estudo é a forte ligação entre condições sociais e as taxas de mortalidade por diabetes.
“As características individuais, como a falta de acesso à saúde e os baixos níveis de escolaridade, emergem como fatores significativos que influenciam os desfechos de óbito. O acesso limitado à saúde, a falta de cobertura de estratégias de saúde da família e índices de vulnerabilidade social estão intimamente ligados às taxas de mortalidade. Notavelmente, os pacientes com menos de três anos de educação formal foram identificados como mais suscetíveis a desfechos negativos”, destacou a professora.
O estudo adotou uma abordagem abrangente, analisando dados de todos os estados do Brasil de janeiro de 2010 a dezembro de 2020. Após a avaliação, foi constado que morrem mais mulheres do que homens, sendo 55% das vítimas pessoas do sexo feminino. O ápice da mortalidade pela doença está também relacionado à idade e raça, sendo pessoas de 80 anos ou mais 29,9% das mortes e pessoas paradas 36,3%. Por fim, o dado mais alarmante foi referente à escolaridade, quando cidadãos que possuem no máximo três anos de estudo representam 48,3% dos mortos por diabetes.
Quanto ao recorte por região, o Nordeste do Brasil, por exemplo, experimentou um aumento geral nas taxas de mortalidade pela doença, com 34,4 mortes por 100 mil habitantes.. No entanto, o estado do Ceará destacou-se com uma redução consistente de 2% ao ano entre 2009 e 2020.
A chave do cuidado - No coração da pesquisa, está a convicção de que cuidar da saúde vai além de protocolos frios e impessoais. A professora Thereza destaca a importância de entender profundamente os pacientes como indivíduos. Ela ressalta que cada pessoa traz consigo um conjunto único de circunstâncias, experiências e necessidades. “A enfermagem não pode se limitar a fórmulas genéricas, ela deve se adaptar a cada situação. Essa perspectiva é especialmente relevante quando se trata de doenças crônicas como a diabetes. Cada paciente é uma história em evolução, e a intersecção entre suas condições sociais e a saúde muitas vezes determina o rumo de sua jornada”, enfatizou.
O pesquisador Thiago Santos Garces mergulhou nesse desafio analisando meticulosamente fatores como a falta de acesso à educação, renda e até mesmo a presença de um banheiro em casa podem influenciar as taxas de mortalidade por diabetes. A abordagem personalizada não é apenas um ideal, mas uma necessidade urgente, refletindo o compromisso de compreender e atender verdadeiramente as necessidades da população. Uma das principais lições extraídas a partir desta pesquisa é a importância de uma abordagem personalizada no tratamento de pacientes com diabetes. O conhecimento das características individuais dos pacientes é fundamental para moldar estratégias de cuidado eficazes.
“Temos um olhar otimista para o futuro. Planejamos expandir as análises realizadas e desenvolver mecanismos de previsão para desfechos negativos relacionados à diabetes e outras doenças crônicas. Além disso, temos que reiterar a importância de obter dados atualizados da população por meio de um novo censo, a fim de avaliar com precisão os indicadores de saúde e as tendências da população. Tecnologias de orientação, como aplicativos e materiais informativos, também estão sendo desenvolvidas para melhorar a aderência ao tratamento e aos cuidados de saúde”, afirmou Thiago.
O estudo realizado pela Universidade Estadual do Ceará oferece
insights valiosos sobre as complexas interações entre condições sociais, indicadores de saúde e a mortalidade relacionada à diabetes no Brasil. As descobertas enfatizam a necessidade de uma abordagem individualizada no cuidado com pacientes com diabetes e destacam as desigualdades sociais que desempenham um papel crucial nas taxas de mortalidade. Além disso, o estudo incentiva a melhoria dos sistemas de coleta de dados e a promoção da educação em saúde como formas de prevenir desfechos negativos associados ao diabetes.
Por Fabrício Santos, da Assessoria de Comunicação da RLAE