A gravidez é um período marcado por mudanças emocionais e físicas profundas, porém nem sempre é um mar de felicidade como muitos podem imaginar. Um artigo
publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem (RLAE) traz à tona a questão da depressão durante a gravidez, um tema frequentemente negligenciado. A pesquisa teve como autora principal Mônica Maria de Jesus Silva, professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
O estudo faz parte de um projeto maior chamado "Escala de Risco de Depressão na Gravidez: Vulnerabilidade da Gestante e Percepção do Enfermeiro na Assistência Pré-natal", uma iniciativa que busca desvendar o risco de depressão em mulheres grávidas. “A depressão é uma condição que afeta pessoas de todas as idades, mas muitas vezes não recebe a devida atenção durante a gravidez. A sociedade espera que as gestantes estejam em um estado de felicidade constante, o que nem sempre reflete a realidade”, detalhou Mônica.
Segundo a pesquisadora, o contexto da gravidez, seja ele planejado ou não, pode ser um fator desencadeante para o desenvolvimento da depressão. Mudanças hormonais e físicas, juntamente com o peso das circunstâncias pessoais, podem levar à vulnerabilidade psicológica nesse período.
É uma realidade muitas vezes esquecida, já que a atenção geralmente se concentra na depressão pós-parto. A pesquisa envolveu 201 mulheres grávidas que estavam passando pelo acompanhamento pré-natal de risco habitual em uma maternidade pública no Estado de São Paulo.
O estudo revelou resultados surpreendentes. Cerca de 68,2% de todas as gestantes apresentaram um alto risco de desenvolver depressão durante a gravidez. Além disso, fatores sociais, como o emprego, demonstraram uma forte correlação com o risco. “As mulheres desempregadas tinham o dobro de chances de estar no grupo de alto risco para depressão na gravidez. Essa ligação entre depressão e fatores socioeconômicos destaca como a vulnerabilidade social pode influenciar a saúde mental”, destacou a docente.
A Escala de Risco de Depressão na Gravidez - Mônica desenvolveu a Escala de Risco de Depressão na Gravidez (ERDEG), uma ferramenta inovadora que auxilia profissionais de saúde a identificar o risco de depressão em gestantes. A escala não diagnostica a depressão, mas avalia o risco com base em respostas a 24 perguntas. Isso permite aos profissionais oferecer suporte e medidas preventivas adequadas.
“A implementação da ERDEG nos serviços de pré-natal é um passo crucial para melhorar a saúde mental das gestantes. Além disso, a conscientização sobre a importância do rastreamento de depressão durante a gravidez precisa ser disseminada entre gestores de saúde e formuladores de políticas públicas”, enfatizou a autora.
O estudo de Mônica oferece uma visão esclarecedora sobre a depressão durante a gravidez. Ao focar na saúde mental das gestantes, especialmente por meio da implementação da ERDEG, é possível criar uma abordagem mais abrangente para o cuidado pré-natal. Esse estudo não apenas ressalta a necessidade de atenção à saúde mental, mas também destaca como a colaboração entre profissionais de saúde pode fazer a diferença na vida das gestantes e de seus filhos.
O papel da enfermagem - O artigo reforça ainda a importância do enfermeiro no cuidado da gestante durante o pré-natal. Conforme observado no trabalho, o pré-natal não deve se concentrar apenas na saúde física da mãe e do bebê, mas também na saúde mental da gestante. Mônica finaliza enfatizando que a depressão na gravidez não deve ser negligenciada, pois pode ter impactos significativos na saúde da mãe e no desenvolvimento do bebê.