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Estudo identifica fatores associados ao abandono do tratamento contra o HIV/aids por jovens durante a pandemia


Créditos da imagem: Freepik
 
Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá analisou prontuários de dezenas de pacientes​​
 
Desde março de 2020, momento em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de Covid-19, a sociedade e os profissionais de saúde passaram a enfrentar os maiores desafios de saúde da história recente. Pessoas com comorbidades crônicas, como diabetes, hipertensão, asma, doenças cardiovasculares, obesidade e imunocomprometidas, incluindo aquelas vivendo com HIV/aids, foram orientadas a tomar precauções extras, uma vez que são mais suscetíveis a casos graves e complicações decorrentes da doença, aumentando o risco de morte.

Apesar das décadas de avanços no tratamento do HIV, o vírus ainda é um mal que representa um desafio significativo para a saúde pública em todo o mundo. Durante a pandemia, especialistas observaram que alguns pacientes pararam de realizar o tratamento, o que motivou pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) a investigar os fatores associados ao abandono da terapia antirretroviral (TARV) entre adolescentes e jovens vivendo com HIV/aids no período. Um artigo com os detalhes do estudo foi publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem (RLAE). 

O estudo é oriundo da dissertação de mestrado de Camila Moraes Garollo Piran, da UEM, que foi orientada pela professora Marcela Demitto Furtado. Com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o trabalho foi realizado em um serviço de atenção especializada em saúde do município paranaense que presta atendimento a 30 municípios, onde foram analisados prontuários de 136 adolescentes e jovens vivendo com HIV/aids, dos quais 24 abandonaram o tratamento e 109 continuaram em acompanhamento. 

Os resultados mostraram que a idade próxima a 23 anos na última consulta e as longas distâncias do serviço de saúde aumentam as chances de  abandono da TARV. Por outro lado, a utilização esporádica de preservativo e a presença de infecções oportunistas são fatores que estimulam os pacientes a seguirem com o tratamento. Segundo Camila, esses achados destacam que os adolescentes e jovens são um público que apresentam comportamentos mais vulneráveis em relação à saúde, quando comparados a outros grupos etários. 

Dessa forma, tem-se a necessidade de ações e estratégias que englobem os diferentes contextos de enfrentamento do HIV/aids entre adolescentes e jovens, além de um plano de cuidado multiprofissional que esteja de acordo com a realidade do sujeito, a fim de diminuir os fatores de maior chance para abandono da TARV, especialmente durante a pandemia, quando o acesso aos serviços de saúde foi afetado. 

“Os resultados ressaltam a necessidade de incentivar o uso consistente do preservativo, reforçando a urgente necessidade de ações de promoção da saúde sexual e prevenção de HIV/aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis ainda no ensino fundamental, pois abordar questões relacionadas à sexualidade são imprescindíveis para cuidados abrangentes.  Além disso, torna-se necessário melhorar as estratégias para o acesso geográfico aos serviços de saúde, porque isso com certeza vai melhorar a adesão à TARV. A adolescência é o momento quando ocorrem mudanças intensas físicas, emocionais e comportamentais, as quais envolvem novas experiências, algumas das quais podem representar riscos à saúde. 

Cada indivíduo ou grupo social tem estilos de vida, riscos e percepções diferentes em relação ao HIV/aids. Portanto, é preciso oferecer uma variedade de métodos preventivos para atender às necessidades de diferentes segmentos da população. Estima-se que, em 2020, cerca de 37,7 milhões de pessoas estavam vivendo com HIV, mas apenas 28,2 milhões tinham acesso à TARV. 

No Brasil, houve uma redução na taxa de detecção do HIV entre as mulheres jovens, de 18,5 casos por 100 mil habitantes em 2010 para 9,2 por 100 mil habitantes em 2020. No entanto, entre os homens jovens, a taxa aumentou de 27,3 para 33,2 por 100 mil habitantes no mesmo período. Além disso, a taxa de mortalidade por Aids também aumentou entre os homens jovens de 20 a 24 anos, com 3,4 óbitos por 100 mil habitantes em 2020.

O tratamento - Dentre as estratégias de tratamento, destaca-se a TARV, que busca reduzir a carga viral do indivíduo com HIV/aids, podendo torná-la indetectável e diminuir os riscos de transmissão do vírus, além de melhorar a qualidade e a expectativa de vida das pessoas com a infecção. No entanto, apesar da disponibilidade de diversas estratégias de intervenção, a não adesão ou o abandono do tratamento ainda são desafios, resultando no aumento de casos em certos grupos etários.

“A adesão à TARV é um dos principais fatores para o sucesso do tratamento. No entanto, ainda há casos de descontinuação e abandono do tratamento, e os motivos associados a esses desfechos não são completamente conhecidos, especialmente durante a pandemia, que afetou a vida das pessoas de várias maneiras. Os profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de planos de cuidado integral e estratégias de adesão à TARV de acordo com as necessidades de cada adolescente e jovem com HIV/aids. Também é importante fornecer suporte social aos pacientes, seus familiares e à equipe de saúde para melhorar a qualidade de vida e a sobrevida por meio da adesão ao tratamento”, afirmou a professora Marcela.

Embora esse estudo seja específico para uma localidade, ele fornece informações importantes sobre as causas do abandono da TARV durante a pandemia e pode subsidiar políticas públicas de saúde e práticas de enfermagem voltadas para o cuidado de adolescentes e jovens com HIV/aids. 

Os resultados do estudo destacam a relevância de entender os fatores que contribuem para o abandono da terapia entre adolescentes e jovens que vivem com HIV/aids durante a pandemia, com a faixa etária dos 10 aos 24 anos sendo crucial para o aperfeiçoamento do cuidado na transição de jovem para adulto.
 
Por Fabrício Santos, da Assessoria de Comunicação da RLAE

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